Thursday, October 4, 2012

Retratando o que realmente é

A cultura estadunidense tem uma particularidade, ela retrata o próprio país como acha que ele é, não como demonstra a realidade. Hollywood tem muito a ver com isso, mas bem antes das estrelas da sétima arte brilhares nas telas, outras pessoas que deveriam ser mais sérias faziam o mesmo. Por isso, senhores de escravos como George Washington, Thomas Jefferson ou Benjamin Franklin puderam fazer uma Declaração de Independência falando em terra da liberdade. Tal como nossos sinhozinhos de engenho, Washington e Jefferson só se lembravam das senzalas em suas casas quando queriam servir-se de uma escrava sexualmente. Para ver imagens mais realistas dos EUA, é preciso voltar muito, muito atrás.
Segundo Hollywood, os índios de lá sempre usaram roupas dos pés à cabeça, cheias de franjinhas nas mangas e nas calças, um reco-reco pendurado ao peito e cocar circular de penas na cabeça. Ao contrários dos nossos índios, que viviam pelados e mereciam o epíteto de "selvagens". Bem, não era exatamente assim. Os índios de lá andavam tão pelados, e pareciam tão "atrasados", quanto os nossos, quem os vestiu nas telas foi o puritanismo hipócrita. John White, um colono inglês que retratou várias cenas com índios por volta de 1585, é quem nos mostra.
O mais curioso, tanto nas aquarelas de John White, quanto em quadros semelhantes de Eckhout ou Thevet retratando o Brasil, é a prevalência do princípio identificado pelo historiador da arte Ernst Gombrich em seu livro Arte e Ilusão: um pintor pinta o que aprendeu a pintar. Pois em todas essas pinturas os americanos, tanto do sul quanto do norte, têm uma indisfarçavel anatomia renascentista, assumindo poses que só vemos em estátuas clássicas.
Vale a pena dar uma olhada no sítio de onde tirei essa ilustração, que mostra nativos da Carolina do Norte. Aqui.

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