Bárbaros, para os gregos, eram os que não falavam grego; consta que a etimologia da palavra é meio onomatopaica, referindo-se aos ruídos grosseiros que os bárbaros fariam ao falar. Elevando esta forma de pensar a um expoente máximo, embora criando significados bem mais complexos, Sartre disse que o inferno são os outros. Balbuciadores confusos ou ameaça demoníaca, quem são esses bárbaros que nossa débil muralha pretende deixar do outro lado?
Nenhum dos dois, claro. Apenas queremos aqui retomar a idéia de uma civilização ocidental, mera idealização, óbvio, visto que é idéia. Os bárbaros são os que ameaçam esta civilização idealizada, que, pasmem, tem pouquíssimo a ver com o “Ocidente” de nossos dias. Este foi o sentido que a palavra “bárbaro” adquiriu com o passar do tempo. E, hoje como ontem, eles não estão do outro lado da muralha, estão entre nós. E, geralmente, têm poder de sobra para impor aos homens sua barbárie travestida de modernidade.
A resposta certa é, quase sempre, a mais óbvia. Se as idéias se basearem mais nos fatos que independem da vontade humana e menos nos fatos que a vontade humana nos impõe, estaremos bem perto de acertar. Lembremos antes de tudo que somos corpos animados num mundo cheio de coisas animadas, mesmo que algumas pareçam não ser. Comecemos por respeitar a realidade do mundo: a vida é melhor do que a morte. Tão infantilmente banal, mas tão irretorquivelmente sábio.
Estar do lado da morte não é apenas matar: é tentar sufocar, por razões inconfessáveis, ou pelo menos sempre inconfessadas, tudo o que signifique o prazer de se estar vivo. É querer reduzir a vida a um mecanismo triste e desalentado, que espera apenas por seu fim. É querer reduzir o dom máximo que recebemos, seja dos Deuses, seja do simples acaso, a um sentimento infindável de culpa e maldição. Esta é a barbárie que não admitimos, não importa que roupas ela vista.
Friday, January 16, 2009
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