Tem gente que adora remexer em coisas que já estão mais que assentadas. Coisas como o destino do Michelangelo, não o Buonarroti, mas o Merisi, mais conhecido pelo nome da aldeia lombarda em que nasceu, Caravaggio. Ele, como sabemos, era brigão, não levava desaforo para casa e, de quebra, distribuia-os com liberalidade. Assim, no melhor de sua fase romana, teve de fugir da Cidade Eterna para não ser preso por crime de morte. De fuga em fuga, Caravaggio acabou morrendo jovem, à míngua de todo socorro humano, como então se dizia. Azar dele, mais ainda nosso, mas finalmente encontrara a paz.
Vem então o Silvano Vinceti, o tal remexedor do que não deve, e se põe a desenterrar ossos no pequeno cemitério de San Sebastiano, na igualmente exígua vila de Porto Ercole, onde, dizem, o mestre do chiaroscuro fora enterrado. Desenterrou meia dúzia de ossadas e, usando métodos altamente científicos (provavelmente o uni-du-ni-tê), escolheu uma delas. Daí concluiu que a principal causa da morte do pintor foi o envenenamento por chumbo.
Ser morto por chumbo não é exatamente um exclusivismo, embora a maioria das vítimas deste metal pesado não tenha tempo de se envenenar. Mas e daí, se Caravaggio não morreu apenas pelos ferimentos de sua derradeira briga, dizem que encomendada pelos parentes do homem que ele matara em Roma? Para a arte, isso tem a mesma importância da famosíssima orelha do Van Gogh: nenhuma. Mas se nem o digno, probo e refinado Pico della Mirandola escapou da xeretice do Silvano, que também atribuiu a morte do filósofo ao veneno, por que o coitado do Caravaggio, cheio de culpas no cartório, escaparia?
Dele, materialmente, restaram apenas os poucos ossos da foto acima (se é que são dele). Deixemos que o Silvano Vinceti cuide dos ossos, nós cuidaremos de sua arte.
Thursday, June 17, 2010
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